No dia 30 de abril de 1854, era inaugurada a primeira ferrovia no Brasil, em um trecho com 14,5 km de extensão, ligando o Porto de Mauá a localidade de Raiz da Serra que ficava na direção de Petrópolis, no Rio de Janeiro.

As primeiras vias férreas surgiram timidamente no país, principalmente no sudeste e nordeste. O principal trecho inaugurado na época foi o trecho da  Estrada de Ferro Central do Brasil, com o decorrer, uma sucessão de novas ferrovias com capitais estrangeiros foram criadas, no sul, no sudeste  e no nordeste do país, tornando o trem, o melhor meio de transporte existente, trazendo com ele muita riqueza, progresso e modernidade.

No primeiro governo de Getúlio Vargas, o desenvolvimento no setor de transportes foi priorizado para o modal rodoviário e nessa época, o governo federal começou a nacionalizar as ferrovias controladas por capital estrangeiro e assumiu o controle de várias delas, no entanto, a falta de planejamento e de recursos em um período de entre guerras e associados a crises econômicas e  a falta de investimentos em modernização, fizeram com que parte da rede fosse erradicada.

Na década de 50, o governo brasileiro requisitou um estudo sobre a situação das estradas de ferro, e devido ao  grande  déficit existente, resolveram   criar em 30 de setembro de 1957 a Rede Ferroviária Federal S/A – RFFSA, visando  sanear o sistema ferroviário nacional, reunindo 22 ferrovias e sua principal finalidade era, reduzir os déficits, padronizar os procedimentos, modernizar a operação, reduzir a despesa e aumentar a produção. 

Após alguns anos de progresso e  com grandes investimentos em diversos setores do sistema, a empresa começou a sofrer na década  de 80  um processo  de degradação da infra-estrutura e da superestrutura da via permanente e do material rodante. 

No meio desta década, o desequilíbrio técnico-financeiro era tão grande, que já não suportava rolar a dívida contraída, e assim, a Rede foi incluída no Programa Nacional de Desestatização e em seguida no processo de  extinção.

A partir desta, criaram-se  concessionárias ferroviárias para exploração dos ramais de carga, sendo que muitos ramais foram desativados, pois  não eram comercialmente viáveis e  associados a outros problemas políticos na área de transporte, foi criado um verdadeiro espaço e paralisação momentânea do setor ferroviário e em consequência direta a falta de  interesse na profissionalização da ferrovia, ocasionando  uma grande  ausência   de profissionais qualificados  e especializados neste modal, tanto nas escolas de formação de profissionais, que eram os  alunos aprendizes, quanto aos  de  nível médio e de nível superior, gerando desta forma   uma  carência da mão de obra especializada.  

Na Europa, desde 1800, até os dias de atuais, o principal meio de transporte é o trem. As grandes metrópoles europeias ou pequenos vilarejos são alcançados através do sistema ferroviário e nem o transporte rodoviário e o aéreo conseguiram competir  com a cultura dos europeus em viajar de trem. Outro grande exemplo é a China, nos últimos 10 anos, os chineses construíram, (considerando apenas a malha de trem  de alta velocidade), uma extensão    maior que toda a malha ferroviária existente na Europa. 

Atualmente o sistema de transporte ferroviário, ainda possui uma participação pequena na matriz de transportes,  o valor  do transporte de cargas das rodovias é de 60% contra 25% das ferrovias, e se observarmos o transporte de passageiros, veremos que esse desequilíbrio e ainda mais evidente, chegando a 95 % a movimentação pelas rodovias.

Um caminhão de grande porte transporta no máximo 35 toneladas, e em apenas um vagão transporta em média 130 toneladas, além do fato de que temos no país, condições topográficas favoráveis e que se mostra mais eficiente para grandes distancias e para cargas de grandes volumes, no país, as rodovias transportam quase 3 vezes mais  que as ferrovias, apesar do custo ser muito mais relevante. 

Na comparação entre a nossa matriz de transporte de cargas e de outros países com dimensões continentais como o Brasil, teremos: China ferrovia 37%, rodoviário 14%; Estados Unidos 47% ferrovia e 32 % rodoviário, Rússia 60% ferrovia contra 8 % rodoviário; Canadá 67% ferrovia contra 20 % rodoviário. 

O  potencial brasileiro para atuar no transporte ferroviário é gigantesco, mas necessita investir em tecnologia, para isso, precisamos de técnicos e engenheiros que desenvolvam este conhecimento.

Atualmente estamos vivemos um momento  especial, “enxergamos uma luz no final do túnel”, com uma série de grandes projetos de construções de ferrovias em todo o  Brasil,  com vultuosos  investimentos que englobam quase  9.000 quilômetros de novas ferrovias, como a expansão da ferrovia norte sul, a construção da nova transnordestina ,litorânea sul,  ligação centro oeste, ligação oeste – leste, além do trem de alta velocidade (TAV), da ampliação das linhas metroviárias  em varias capitais e dos veículos leves sobre trilhos. 

Estudos indicam que até 2025, o modal ferroviário responda por até 40% da sua matriz de transporte e assim, uma das soluções, será a de investir em mão de obra, com a criação de cursos de especialização na área ferroviária e de transporte sobre trilhos em atendimento as necessidades que se impõem.

A retomada de crescimento está por vir e exigirá do pais uma melhor capacidade logística de transporte, ligando o norte ao sul e leste a oeste, no  transporte de carga e  de passageiros.

Com isto, estamos comemorando  o dia  do ferroviário e os 161 anos de implantação da primeira ferrovia no Brasil,  acreditando que o país vai entrar nos trilhos, “nivelado e alinhado”  com o seu crescimento e com  “sinal” livre para o seu  desenvolvimento, porque, desta forma, o “Brasil trem Jeito.”


 José Roberto Pataro
Coordenador Pedagógico do curso de Pós em Engenharia Ferroviária