A Polícia Civil de Minas Gerais está investigando o uso de uma substância chamada dietilenoglicol (DEG) no processo de fabricação de cervejas. Um laudo confirmou que a substância está presente em duas garrafas de cerveja encontradas na casa de pacientes internados com sintomas de uma síndrome desconhecida por especialistas.

Segundo a polícia, o laudo preliminar indica que não há como confirmar a responsabilidade da empresa fabricante. Até o momento, sete pessoas estão internadas com intoxicação em hospitais de Belo Horizonte e Nova Lima. Quatro pessoas morreram.

 

O que é o Dietilonoglicol?

O dietilenoglicol (DEG) é uma substância de cor clara, viscosa, sem cheiro e com sabor adocicado. Sua fórmula química é C4H10O3. É um anticongelante cujo uso é bastante comum na indústria. A ingestão provoca intoxicação com sintomas de insuficiência renal e problemas neurológicos.

Segundo a Anvisa, o dietilenoglicol é um solvente orgânico altamente tóxico que causa insuficiência renal e hepática, podendo ser fatal quando ingerido. A intoxicação por DEG ocorre quando ele é usado de forma inapropriada em preparações químicas, substituindo outros produtos não tóxicos para o ser humano. Dezenas de casos de intoxicação pela substância foram registrados em diversos países, desde 1937.

 

Para o que esta substância é utiliza?

O dietilenoglicol é bastante usado como solvente para produtos químicos e drogas que não dissolvem em água, na indústria farmacêutica, na produção de cosméticos, lubrificantes, combustíveis para aquecimento e plastificantes.

Na fabricação de cerveja, ele pode ser usado no processo de resfriamento da bebida. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva), Carlo Lapolli, seu uso em cervejarias é muito raro. Ele explicou que, normalmente, para a refrigeração dos tanques, as cervejarias usam álcool puro, sem nenhum tipo de conservante ou agente químico, misturado com água, numa proporção de 30%. A refrigeração é feita por meio de círculos fechados, em tubos, de forma que a substância não tenha contato direto com o produto.

Lapolli afirmou que a substância mais utilizada na produção de cerveja é o propilenoglicol, que pode ser consumido por seres humanos e atua como anticongelante no processo de fabricação. Ele ainda observou que o nível de toxicidade do dietilenoglicol não é alto, e que precisaria ser consumida uma quantidade muito grande para que haja o efeito visto nos casos de Minas Gerais. “É preciso aprofundar a investigação e ver se as causas são mesmo essas”, comentou Lapolli.

A Fundação Ezequiel Dias (Funed), órgão estadual de pesquisa responsável por análises laboratoriais, realiza exames de amostras de sangue dos pacientes. A Polícia Civil apura se há indícios de crime. Os sintomas da síndrome incluem náusea, vômito, dores abdominais, evoluindo rapidamente para insuficiência renal e alterações neurológicas.

Segundo o Prof. Dr. Marcelo Polacow, coordenador dos cursos de pós-graduação em Farmácia da Pós Estácio, é importante lembrar que, nesse caso, as análises clínicas e toxicológicas foram essenciais para se poder descobrir qual a substância causadora da intoxicação e as medidas clínicas a ser tomadas: “Esse tipo de raciocínio e prática profissional são fortemente abordados nos cursos de Análises Clínicas e Toxicológicas, Farmacologia Clínica, Farmácia Clínica e Emergência e Trauma, da Universidade Estácio”, destacou o coordenador Marcelo.