Como duas datas importantes para o calendário da história brasileira estão próximas, Dia de Tiradentes, em 21 de abril, e a chamada data de ‘Descobrimento do Brasil’, no próximo sábado, dia 22; a Pós Estácio divulga um conteúdo exclusivo que esclarece vários pontos acerca destes temas. 
 
Por meio do olhar do professor e docente do curso de Pós em História e Cultura no Brasil, Odair de Abreu Lima, o leitor irá compreender melhor o que é verdade e o que é uma tentativa de romantização da própria história vivenciada na época. 
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Quando se trata de Tiradentes, por exemplo, o que se sabe, e o que os livros didáticos sempre traziam aos alunos e professores durante atividade escolar, era a informação em torno da figura deste homem, que não era rico e nem abastado, mas sim apresentado como um verdadeiro herói brasileiro, ativo e atuante na tentativa de luta por uma Independência do Brasil. 
 
Tiradentes era participante do grupo que liderou a Inconfidência Mineira e teria sido executado quando o movimento foi delatado por Joaquim Silvério dos Reis. Por lutar pelos ideais que acreditava e, por ser contrário ao Império, a Coroa Portuguesa não teria tido outra alternativa senão a de condenar Tiradentes à morte, no caso, à execução. Os outros membros da Inconfidência tiveram destino diferente por negarem suas atividades no grupo e, por este motivo, foram poupados da condenação e apenas exilados. 
 
O personagem Tiradentes seria o mais pobre e, por isso, também o único condenado à forca. Esta ideia é a linha mais famosa e de conhecimento de todos. 
 
O professor Odair de Abreu Lima destaca que, em contrapartida, após atualizações mais recentes e dados históricos apurados, é sabido que o que existiu  foi a participação deste personagem em um movimento do qual fazia parte a elite.  O objetivo da Inconfidência Mineira era o de emancipar a região mineradora correspondente a São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, e não o Brasil como um todo. Há a confirmação de que foi um movimento que teve como base sim os ideais iluministas, tanto que a bandeira que o influenciou é a bandeira do estado de Minas Gerais. Mas a verdade não é exatamente de acordo com aquela mencionada no início. 
 
Por estas razões se conclui que a busca da identidade de qualquer país precisa de heróis e personagens. Na época do Império ninguém conhecia mesmo quem era Tiradentes. O caso é que a República utilizou a imagem dele como um homem pobre e digno, defensor dos interesses que iriam culminar na Independência do Brasil, para seu próprio interesse. 
 
“Ninguém nega a importância de Tiradentes, o fato é que ele não foi retratado fielmente segundo o que a história conta”, menciona o professor Odair. 
 
Partindo para o que se refere ao ‘Descobrimento do Brasil’, o que é ensinado no Ensino Fundamental preconiza que Pedro Álvares Cabral, dentro do contexto das grandes navegações, foi designado a cumprir uma missão nas Índias, contudo, no meio do caminho, teria desviado a rota e acabou por atracar no Brasil, em 22 de abril. Chegou à Bahia, onde é localizada a cidade de Porto Seguro, deu o nome à terra de Vera Cruz, depois Santa Cruz e, por fim, Brasil. Em terras brasileiras foi celebrada uma missa em 26 de abril e, após isso, o navegador seguiu seu caminho até as Índias. 
 
No entanto, de acordo com o que aponta o professor Odair, a história é uma ciência dinâmica, em que tudo é atualizado a todo momento. “Eu, por exemplo, não concordo com este termo de descobrimento, visto que ele não é correto. Livros que falam em 1,5 milhão, outros em 5 milhões de índios vivendo no Brasil, com sua cultura, seu jeito de viver, suas relações sociais, antes dos europeus desembarcarem aqui. Gosto particularmente de usar “Conquista do Brasil” ao falar sobre 22 de abril. Houve a questão da dominação, seguindo interesses econômicos, religiosos e práticos dos portugueses. Não foi uma descoberta”, salienta. 
 
Odair lembra que outro dado que deve ser discutido é o “sem querer querendo, que trouxe os portugueses ao Brasil”. No século XV, um espanhol já havia feito uma navegação até a região norte do Brasil, então a terra era conhecida pelos portugueses. Mais um elemento que comprova o conhecimento dos portugueses no que diz respeito à existência do Brasil, é que eles haviam entrado no Tratado de Tordesilhas, firmado com a Espanha, que se deu por uma linha divisória de negociação, através de um acordo por terras, entre países, seis anos antes da “data do descobrimento”. A lógica é que um lugar não poderia ter sido descoberto depois de ter sido dividido. 
 
Pedro Álvares Cabral jamais teria cometido o grave erro de ter desviado tanto a rota, das Índias para o Brasil. Nada foi por acaso. Havia um projeto anterior. Os portugueses sabiam do perigo de outras nações dominarem o Brasil, por isso, tomaram posse. 
 
Em nossos tempos… 
 
A entrevista com o docente Odair, que ministra aulas na Educação Fundamental até hoje, nos revelou que, para que a história não seja distorcida e relatada de forma irresponsável, falta um projeto, uma verdadeira articulação entre as universidades e a Educação Básica. 
 
Textos complementares são acrescentados aos livros didáticos, mas a maioria deles não traz as informações mencionadas por Odair, como oficiais. 
 
“O aluno constrói o que sabe com o que vem da própria escola, mas também da família, dos amigos, da internet… É necessário um confronto entre os textos, artigos e conteúdos divulgados para criar opiniões mais firmes”, diz o professor. 
 
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